"Tentou mexer as pernas, mas os joelhos bateram no tampo do caixão.
Calma, pensou. E sentiu uma chuva de serenidade a cair-lhe uniforme sobre o corpo deitado. As mãos perderam a forma. Pousou as pálpebras sobre os olhos. Seria de noite ou de dia? O seu tempo já não tinha noites ou dias. Naquele absoluto, naquele ar que se tornava sólido, o seu tempo era feito de instantes muito lentos. A velha Lubélia, velha, velha, esperava por eles, aceitava-os." (Pág. 161)
In Livro de José Luís Peixoto
Não resisto a deixar aqui mais uns apontamentos.
"Apagava-se a despedida, a falta dissolvia-se.”
"...sombras de hera que se atiravam pelo muro..."
"A terra respirava."
"...uma vírgula iniciara o percurso em direção ao seu útero."
"Tinha o silêncio diante de si..."
“Prefiro ignorar aquilo que toda a gente está a ler. Para o bem e para o mal, tenho tempo. Acalento a imagem de leitor solitário, único leitor de páginas que as multidões já esqueceram. Concedo-me o direito de fruir as minhas ilusões, se for por consciência, não é por ingenuidade.”
In Livro de José Luís Peixoto
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