SINOPSE: "Uma
octogenária em fim de vida recebe a visita de um padre aposentado,
para a última confissão, e ambos revisitam o passado na esperança
de exorcizarem demónios de consciência. Cinquenta anos antes, a
mulher fora denunciada à PIDE por um bufo que depois desapareceu sem
deixar rasto juntamente com o agente enviado para investigar a
denúncia. Mas o demónio de consciência mais antigo nascera anos
antes, dos escombros da Segunda Guerra Mundial, nas ruínas de um
coração."
A minha opinião
É pelo prenúncio de um fim que se
inicia este belo romance.
Através da confissão de uma idosa
somos convidados a conhecer um percurso de vida nada fácil. Uma vida enraizada
na ditadura em Portugal. Uma vida de dor, sofrimento e escolhas sempre feitas
em nome do amor. Eram tempos duros, vidas cheias de mágoas e parcas de
liberdade, vidas quase analfabetas, vidas incomuns que naquele tempo eram
simplesmente comuns. Eram vidas de um povo atormentado pelo poder de uma
minoria, pela violência, pela opressão, pela perseguição e pela injustiça dos
que mandavam.
A mim, pessoalmente, fez-me reviver
momentos passados. Não vivi na pele a dor desse povo, vivi as histórias que os
meus pais e avós me contavam. Também na minha família houve emigrantes,
soldados no Ultramar, felizmente sem perdas. Senti o medo nas conversas dos
meus pais, pelos irmãos, pelos filhos, pelos vizinhos que eram informadores da
PIDE e até sentia o medo dos carros pretos que à noite calcorreavam lentamente
as ruas da minha aldeia. Vivi o terror a impotência, a revolta e o desespero de
quem clamava por liberdade ou simplesmente por poder viver. Lembro-me dessa
madrugada de abril, desse grito de liberdade, desse abrir de portas à igualdade.
Quando olho para trás pergunto-me muitas vezes se tudo não terá sido em vão?
Será que conseguimos fazer justiça a todos os que sofreram para que o povo
português fosse livre?
Mas vamos ao que interessa. “Terra
Fria” é um livro que nos fala de sofrimento, de dor, de escolhas e de amor. É
um livro que fala a verdade de forma crua e clara. Manuel Alves tem uma escrita
poética, poderosa e única que nos embala e nos comove. Com ele estive junto das
personagens que criou. Também fiz escolhas, juízos de valor, tive vontade de
matar, de perdoar e de gritar as injustiças. Nesta leitura senti que fazia
parte da história, que foi a minha/nossa história também. Não é um capítulo
lindo mas fizemos parte dele e conseguimos que os homens bons vencessem, mas
onde estão eles?!
A terra fria será certamente um fim,
mas as palavras de Manuel Alves e a história que vivemos são lições de começo
que nunca devemos esquecer. Cada lágrima derramada pelos nossos antepassados,
cada luta, cada sorriso forçado, cada sacrifício, cada esperança, cada escolha
e cada verdade deve ser preservada e deve ser passada de “boca em boca” para
que futuramente não se caia nos mesmos erros.
Esta minha vontade de ler Manuel
Alves foi largamente compensada! Estou perante mais um grande autor português!
Porque será que só publica eBooks desta forma?! Onde estão as editoras, as verdadeiras
editoras, que deveriam dar oportunidade e voz a quem realmente é excelente?!
Ois Clarinda,
ResponderEliminarCompletamente de acordo com o teu comentário em todos os sentidos, um grande livro, baseado na história de um período negro do nosso pais mas que deve ser contado para que não seja esquecida a luta de muita gente por um Portugal melhor :)
E sim o Manuel escreve muito bem, é um dos talentos emergentes e só desejo que faça sucesso, já li e divulguei tambem este livro, mas quero ainda ler mais....merece oportunidade sim senhor, alem de ser uma pessoa muito acessível e simpática, alguém sempre bem disposto :)
Bjs e boas leituras
Também vou procurar ler mais deste autor.
EliminarFoi com a tua opinião que eu fiquei com "a pulga atrás da orelha" e VALEU A PENA!
Bjinhos :)