SINOPSE: "O pintor Oskar
Kokoschka estava tão apaixonado por Alma Mahler que, quando a relação
acabou, mandou construir uma boneca, de tamanho real, com todos os
pormenores da sua amada. A carta à fabricante de marionetas, que era
acompanhada de vários desenhos com indicações para o seu fabrico,
incluía quais as rugas da pele que ele achava imprescindíveis.
Kokoschka, longe de esconder a sua paixão, passeava a boneca pela cidade
e levava-a à ópera. Mas um dia, farto dela, partiu-lhe uma garrafa de
vinho tinto na cabeça e a boneca foi para o lixo. Foi a partir daí que
ela se tornou fundamental para o destino de várias pessoas que
sobreviveram às quatro toneladas de bombas que caíram em Dresden durante
a Segunda Guerra Mundial."
A minha opinião
“A Boneca de Kokoschka” está escrito em capítulos pequenos que se interligam ao longo da narrativa para construir um todo magnífico. Afonso Cruz voltou a deixar-me rendida.
Esta “boneca” é muito complexa,
grandiosa e sedutora. Com ela o autor conta-nos histórias das histórias,
conta-nos ficção e realidade, conta-nos filosofia e vida. Ao longo da narrativa
há quebras temporais que mais tarde são retomadas com imensa mestria.
Sentimo-nos “bonecos de fios” comandados ao longo desta leitura. Tão depressa
estamos aqui, como no momento seguinte a verdade é completamente diferente da
imaginada ou entendida. Numa escrita deliciosa, claramente poética, muito
metafórica e por vezes não muito fácil de acompanhar e compreender, somos
guiados pelo mundo que o autor cria de forma única. Somos guiados pela ilusão
da verdade ou será por uma verdade que é pura ilusão?! Não sei, só sei que
depois de ler Afonso Cruz fico algum tempo a “digerir” a leitura, fico a sentir
as suas palavras a entrarem na minha cabeça e a começarem a fazer parte de mim.
Será que alguma vez eu vou conseguir compreender este autor na sua plenitude e
na sua complexa forma de encarar o mundo? Não sei de novo, mas sei que gosto de
o ler e cresço um pouco mais em cada narrativa, em cada leitura, em cada livro. É
um autor cujo nome fica escrito a “tinta permanente” na nossa alma. Vislumbro
alguém muito “intricado”, muito filosófico e sei que por detrás deste autor há
também alguém muito simples, muito humano e muito acessível. Afonso Cruz é um
ser humano extremamente inteligente e culto, que partilha a sua inteligência na
complexa simplicidade de um livro, de uma ilustração, de uma música ou de uma
conversa.
A juntar a tudo isto o livro
oferece-nos imagens soberbas que o complementam e enriquecem. Imagens que falam
e que narram, também elas, mais um pouco das suas histórias.
Tornei-me fã incondicional de
Afonso Cruz, não posso esconder! Recomendo toda a obra do autor a quem quiser
“despir-se” de todas as reservas e preconceitos e travar conhecimento com um
dos melhores autores portugueses da atualidade, quiçá o melhor!
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