Adornos
Sempre, ao amanhecer,
há orquídeas brancas a revestirem-me a pele
e pérolas que me adornam
como se eu as merecesse.
Sobre o leito,
deixo o silêncio das horas cansadas,
onde permanecem gotas de suor falecido,
abandonadas ao destino das palavras.
Há muito, que não ousava usar o verbo,
pergunto até, se valerá a pena
estender a dor, num rol indiscreto de emoções.
Desnudar-me da alvura das flores,
e atirar-me ao mundo na ânsia
com que as aves sobrevoam os céus
em gritos silentes de paixão.
Desconheço as horas que se revestem
em véspera do dia seguinte.
Desconheço a metafísica que me envolve o Ser.
Desconheço a brevidade com que me dirijo
para o oculto da passagem secreta.
Desconheço também o segredo das ostras
e de todas as criaturas submersas em alto mar.
No entanto as pérolas insistem em enfeitar-me o colo,
as pétalas brancas em cobrirem-me o corpo nu.
Enquanto a respiração me segura à vida
e me dá o privilégio de reter, e, não escrever:
- o último verso-
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