A chama ao vento - Opinião

SINOPSE: "Um corpo anónimo é lançado à água num misterioso voo noturno sobre o Atlântico… 

Vivem-se os anos mais negros da Segunda Guerra Mundial, e a vida brilha com a força e a fragilidade de uma chama ao vento. Na Lisboa de espiões e fugitivos dos anos 40, João Lopes apresenta à sua amiga Carmo um estrangeiro mais velho, homem de segredos e intenções obscuras que depressa a seduz, atraindo os dois jovens para uma teia de mistérios e paixões de consequências imprevistas.
Anos volvidos, Francisco, jornalista, homem inquieto, pouco sabe de si próprio e menos ainda de Carmo, a avó silenciosa que o criou, chama apagada de outros tempos. É João Lopes quem promete trazer-lhe a sua história inesperada, história da família e dos passados perdidos nos tempos revoltos da Segunda Grande Guerra e da Revolução de Abril. Para João, é uma história há muito devida. Para Francisco, o derrubar dos muros que ergueu em torno da memória e da própria vida.
Um retrato íntimo de Portugal em três gerações, pela talentosa escritora de Alma Rebelde."

A minha opinião

Desta vez começo pelas estrelas. Quero dar 7 estrelas no GR e estou fula porque não posso!!!!!!!!!!! Agora, mais seriamente, vamos ao que interessa.

Levei o meu tempo a ler este livro, até porque não gosto de ler no PC. Como não sou expert em informática, não sei o que fiz e não consegui passar o eBook para o Tablet. O facto de ter lido mais pausadamente levou a que eu interiorizasse melhor a história e a vivesse e “degustasse” com mais vontade e mais profundamente.

Um corpo lançado ao mar marca um início magnífico, um mistério, que nos prende à leitura com imensa mestria. Alternando passado e presente, a autora conduz-nos através da descoberta da história e da personalidade de Francisco de uma forma crescente e envolvente, cativando-nos com as descobertas subtis ou bombásticas ao longo da narrativa. Um final surpreendente que nos deixa à espera de mais.

O livro é todo ele uma chama que nos ilumina e nos prende à leitura. A solidão a par com a dor e o sofrimento, o vazio e o “esquecimento” de mãos dadas com o amor, a amizade e as recordações fazem da história desta família algo que nos toca, algo com que nos identificamos, porque é também um pouco da nossa história, da nossa identidade.

Uma escrita metafórica, fluída, rica, magnífica, daquelas que só um mestre é capaz de construir. Um enredo sublime, com personagens belas e bem construídas que nos abraçam e acompanham de perto durante toda a leitura. Uma componente histórica muito bem enquadrada e trabalhada. Foram momentos do nosso país que se ergueram e nos fizeram recordar que somos um povo que, apesar de parecer não querer ver, quando “acordamos” sabemos mostrar o que queremos e sabemos lutar por isso. A par desta componente histórica vamos encontrar um amor devastador que cresceu como uma chama que parecia impossível de extinguir, mas que nos alerta para a fragilidade e a quebra mesmo de sentimentos mais fortes. Toca-nos fundo a capacidade que Francisco teve ao reinventar-se, ao quebrar os muros à sua volta e ao deixar que o amor entrasse na sua vida. Pareceu-me fácil demais, será que foi?! Será que há muitas Teresas e Franciscos por aí?! Se os houver, espero que sejam capazes de ser felizes depois de tanta tempestade.

Já li dois livros da autora e estava à espera de algo realmente novo. Admiro a capacidade que a Carla tem de escrever com registos completamente diferentes. Não fiquei dececionada. Pelo contrário! Esta leitura só confirmou as minhas expetativas. A Carla M. Soares é uma escritora de mão cheia que merece um melhor destaque no campo literário em Portugal. Quero este livro na minha estante, em papel. A autora e, principalmente a história maravilhosa que escreveu, merecem esse destaque. 

Editoras acordem, esta autora merece ser lida, merece ser mais divulgada!

Parabéns Carla, fico ansiosamente à espera de mais!