SINOPSE: "Em Janeiro de 2000, poucos dias após ter celebrado o seu centésimo
aniversário, Francisco morre de doença prolongada, na sua quinta perto
de Peso da Régua. Nesse mesmo dia, Fernando, o advogado da família,
entrega à filha de Francisco uma carta onde é revelado o segredo da
origem do pai e a identidade do corpo escondido na sua campa. Este
romance narra as dez décadas de paixões, ilusões e desilusões de um
homem que sempre amou a sua família, o Porto e o Douro. É, ao mesmo
tempo, uma viagem pelo Portugal do século XX."
A opinião da Vera
Este livro foi uma agradável
surpresa. Apesar da forma como o autor estruturou o livro não ser a minha
preferida (nem tão pouco a considero funcional ou apelativa), a verdade é que a
história em si, o mistério e os segredos da família Branco e dos personagens
que a envolvem cativou-me o suficiente para considerar este um bom livro.
Começamos por conhecer Francisco
Branco que acaba de falecer com a idade de cem anos. Teve uma vida longa,
rodeado da sua adorada família e da sua Quinta no Douro, passando a juventude
no Porto e os estudos em Coimbra.
O livro começa então com a morte
de Francisco no ano 2000 e em cada um dos DEZ capítulos ele vai recuando uma
década até chegar ao ano de 1910, o ano em que Francisco nasceu e foi deixado
numa instituição para crianças. Toda a sua vida procurou as suas raízes,
procurou saber de onde vinha, quem foram os seus pais. Será preciso morrer para
o descobrir?
Quando morre ele tem à sua volta
a filha Luísa e o marido desta, Richard, a mulher Joana, o neto Alexandre e a
bisneta Inês.
São as vidas de Francisco, Luísa
e Alexandre que vamos vendo recuar no tempo, década após década. Pela vida
deles passa Suzana - a mãe de Luísa - Catarina, o primeiro amor de Francisco e
Virgínia, a mãe de Catarina e que impediu o amor dos dois.
Pela vida de Luísa, antes de
Richard (que conheceu inicialmente para comprar a Quinta dos Prazeres e acabou
por ajudar a reconstrui-la e a ficar na família) passou Inácio, seu primeiro
marido e com quem teve Alexandre, um menino muito especial. Este casamento
rapidamente desmorona e Luísa deixa-se apanhar pelas garras de Manuel, mesmo
sabendo da sua fama, ela está desejosa de amor. Mas este amor acaba em tragédia
e o filho Alexandre acaba preso e Manuel acaba por ficar com a casa de Luísa
que foi o que sempre lhe interessou. Desta história sórdida que envolve um
bordel, vícios e prostitutas, salva-se o amor que nasceu entre Alexandre e
Adelaide.
Suzana é uma personagem bastante
interessante. Cativa Francisco desde que este pisou a Quinta no Douro pela
primeira vez. Ele apaixona-se e está disposto a esperar que ela recupere dum
desgosto de amor. Acaba por conseguir a sua atenção e espera que ele acabe os
estudos de Direito em Coimbra para poderem casar. Vão viver para o Porto mas
Clara, a mãe adoptiva de Francisco, desejava mais para o seu filho e não morre
de amores pela nora, pelo que esta, enquanto ele está em Coimbra, vagueia pelas
ruas do Porto, primeiro estranhando o rebuliço da cidade, mas depois deixando
que ele se entranhe na pele. No dia do casamento tanto Suzana como Francisco
têm histórias mal resolvidas e por isso anos mais tarde acabam por
divorciar-se. Suzana acaba por passar pelo Brasil e ir de lá com o companheiro
para uma Angola revolucionária e temendo pela vida, é ajudada pelo enteado
Tomás a regressar a Lisboa. Nas suas horas de demência, anos mais tarde, é de
Tomás que ela recordará com mais afinco.
Catarina é também uma personagem
cativante, misteriosa e aventureira. Quando a mãe se suicida, ela perde o rumo
e acaba institucionalizada. Anos mais tarde quando tenta recuperar a sua vida
ao lado de um Francisco que nunca deixou de amar, descobre um segredo com o
qual não é capaz viver e despede-se de Francisco com um bilhete. Só no final
compreendemos a verdadeira dimensão destes segredos familiares e dos "e
se's..." da vida!
É um leque valioso de personagens
que se misturam do Porto até à Régua, passando pelos tumultos da revolução do
25 de Abril, andando para trás até à constituição da primeira Republica.
Acompanhamos Francisco e os seus
segredos desde que morre até ao mistério do seu nascimento e no final fico com
a sensação que deveria ler o livro outra vez, para melhor o compreender, pois
há coisas referidas no início que na altura não nos dizem muito mas com o
recuar dos anos, compreendemos a sua importância.
Posso dizer que este livro foi
mais do que estava à espera e, à exceção do Epílogo, seria engraçado tentar ler
os capítulos a começar pelo último até ao primeiro, pois era dessa forma que
gostava que o livro tivesse sido escrito.
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