SINOPSE: "Quando Eden tinha dez anos,
encontrou o pai, David, caído no chão da casa de banho. A tentativa de
suicídio conduziu ao divórcio dos pais e David desapareceu quase por
completo da sua vida.
Vinte anos depois, Eden é uma chef
bem-sucedida, mas após uma série de relacionamentos românticos falhados
percebe que é tempo de procurar o pai, que se encontra a viver na rua,
para poder perdoá-lo e seguir em frente.
A sua busca leva-a até um albergue
para sem-abrigo e até Jack Baker, o diretor. Jack convence Eden a fazer
trabalho de voluntariado no albergue e, em troca, ajuda-a na sua busca.
À medida que Eden e Jack se apaixonam e a sua procura os aproxima de
David, Eden vê-se obrigada a enfrentar as suas verdadeiras emoções e a
dolorosa pergunta acerca do pai: será que depois de todos aqueles anos
ele quer mesmo ser encontrado?
Enquanto Eden não fizer as pazes com o passado, jamais será capaz de abraçar o futuro?"
A opinião da Vera
Acabei de ler O Jardim das
Memórias e fiquei fascinada. Adorei a escrita da autora, os personagens e a
história maravilhosa que nos conta. A problemática da doença mental foi
descrita de forma soberba e a forma como a doença afeta as relações da família de
Eden, faz-nos pensar neste tópico numa perspetiva diferente.
Eden sempre teve uma relação
muito próxima com o pai. Foi ele que lhe transmitiu o gosto pela culinária e
pela jardinagem e a ligação entre ambos deixou-me muitas vezes enfeitiçada,
pela magia daquele amor tão doce e puro.
Mas David não é um pai como os
outros, embora Eden às vezes o desejasse. A doença mental que nunca lhe foi
diagnosticada com precisão condicionava muito do dia-a-dia da família e a filha
nunca sabia se o pai estaria bem ou se iria ficar dias inteiros trancado no
estúdio onde habitualmente pintava. Os acessos de mau humor, os silêncios e as
bebedeiras, o desaparecer dias e dias sem uma notícia… tudo isso fazia parte do
desequilíbrio mental de David e a família foi lidando com isso da melhor forma
que sabia e podia.
A autora foi-nos dando a conhecer
o passado e o presente de Eden, intercalando os capítulos para irmos percebendo
a sua busca pelo pai desaparecido, a sua procura por respostas. A mãe de Eden
tentou ajudar o marido de todas as formas possíveis, mas sem sucesso. Percebeu
que primeiro David teria que querer ser ajudado e quando um acontecimento
traumático, que envolveu Eden, sucedeu, ela decidiu desistir e pediu o divórcio
a David. As decisões que tomou depois, fê-las sobretudo para proteger a filha,
na altura com dez anos, e aqui também me questionei o que teria feito no lugar
dela.
Adorei a perspetiva que a autora
nos deu sobre a doença de David. As descrições do próprio sobre o que sentia,
aquilo que desejava fazer mas simplesmente não era capaz, aquilo que sabia ser
esperado de si mas que simplesmente não encaixava. David queria liberdade e a
medicação retirava-lhe não só a liberdade como a capacidade de pintar e pintar
era a sua vida. A filha sempre acreditou nas suas promessas mas ele acabava
sempre por não as cumprir, vivendo atormentado pelos demónios que viviam na sua
cabeça.
Houve uma altura em que David
tentou lutar com todas as suas forças, que acreditou ser capaz de dar um rumo à
sua vida. Tomou algumas decisões e decidiu procurar a filha. Mas nessa altura
Eden achava que o pai tinha estado aqueles anos todos sem a contactar e pelo
que sofreu com essa ausência e abandono, não respondeu às cartas do pai. Tudo
podia ter sido tão diferente…
Quando Eden se cruza com Jack na
procura pelo seu pai, ela acaba por tornar-se voluntária do albergue para
sem-abrigos que Jack dirige e esta nova atividade vai trazer-lhe sensações que
até agora desconhecia, não só em relação ao que está a fazer pelos utentes do
albergue como pelos sentimentos que nutre por Jack. Só tive pena que a autora
deixasse por resolver a relação de Jack com o seu próprio pai.
Uma leitura que recomendo sem
reservas. Um livro que nos dá perspetivas muito interessantes sobre a doença
mental, os sem-abrigo, o poder do amor entre um pai e uma filha. Maravilhoso!
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