SINOPSE: "A Casa com Alpendre de
Vidro Cego" conta, com a simplicidade característica da melhor
literatura nórdica, a vida de Tora, uma menina nascida da relação de uma
norueguesa com um soldado alemão durante a Ocupação, numa aldeia do
Norte da Noruega. Tora carrega o estigma da desonra que a torna alvo do
escárnio dos vizinhos, mas é no lar que terá de enfrentar as investidas
do perigo, sofrendo com a ausência da mãe, Ingrid, que tem de sustentar a
família, e com os abusos do padrasto, Henrik, um homem violento. Apesar
deste ambiente de pobreza e de miséria moral, Tora tem as ilusões
próprias de uma menina da sua idade e desenvolve armas para lutar contra
as adversidades.
"A Casa com Alpendre de Vidro Cego" é o primeiro título da trilogia de Tora que nos deixará, a todos, na expectativa de saber como será a vida da menina-coragem."
"A Casa com Alpendre de Vidro Cego" é o primeiro título da trilogia de Tora que nos deixará, a todos, na expectativa de saber como será a vida da menina-coragem."
A opinião da Vera
O titulo chamou-me a atenção. A sinopse disse-me que este
era um livro que queria ler.Terminei a leitura do "A Casa com Alpendre de
Vidro Cego" com o coração pesado, com um misto de solidariedade e de
esperança, por Tora.
Tora é uma menina que carrega uma herança pesada demais para
a sua idade, uma culpa que não é sua. Ser filha do "inimigo" pôs-lhe
a alcunha de "fedelha alemã" e ela, ainda que não entenda bem o
porquê desse nome, consegue sentir o escárnio e o desprezo na voz de quem o
diz.
Ingrid, a mãe, apaixonou-se durante a guerra por um
soldado alemão. Desse amor nasceu Tora. O destino roubou-lhes a hipótese de
saber se daria certo uma relação tão improvável e Ingrid fica sozinha, com o
peso do seu "atrevimento" para os outros a ostracizarem, a começar
pela família. Apenas Rakel, a irmã, parece compreender Ingrid e dar-lhe algum
apoio.
Entretanto Ingrid tudo faz para ter uma casa que se possa
chamar de Lar. Trabalha arduamente, deixando a filha à noite para ir trabalhar.
E é à noite que tudo acontece.
O padrasto de Tora é um homem bruto, problemático e
agressivo. A crueldade que impinge a Tora é desumana e revoltante.
Tora perde-se nos seus pensamentos, não vocalizando todas as
suas dúvidas, receios e angústias. Também não partilha com ninguém, nem com a
sua amiga Sol, o que lhe acontece de noite, quando Ele entra no seu quarto e se
aproveita da sua inocência. Nessas situações, Tora aprendeu a sair do seu corpo
e não sentir o que lhe está a acontecer. Essa capacidade que a protagonista
relata é assustadora e comovente.
Rakel é a única que lhe diz o que a menina quer saber. É a
única que lhe oferece algum conforto com palavras e gestos, já que a mãe se
fechou numa bolha, pelo seu desgosto, e é incapaz de eliminar a barreira
que existe entre si e a sua filha. Apesar de, quando o marido não esta
presente, conseguirem ter momentos agradáveis, até com alguns sorrisos, esse
"pouco" está longe de ser satisfatório numa relação entre mãe e
filha, especialmente com as particularidades da vida de Tora e que a mãe,
aparentemente, desconhece.
O livro é repleto de personagens complexas que nos dão que
pensar. A autora usou como cenário uma aldeia pobre da Noruega, cujos
habitantes têm pensamentos tacanhos e moralistas, que vive à custa da pesca e
muitas vezes em situações de pobreza e miséria.
A leitura pode parecer complexa por isso deve ser feita com
calma, com tempo para reflexão ao longo da leitura. O livro faz-nos pensar,
questionar, refletir.
O desfecho do livro não se concretizou. Ficamos na
expectativa do que está para vir. É uma leitura forte, que traz ao de cima
sentimentos tão contraditórios como repulsa e piedade, nojo e carinho,
solidariedade e ódio.
Fiquei com o coração apertado com a capacidade de
sobrevivência desta menina, que tenta por tudo imaginar um mundo mais cor de
rosa para tornar a sua vida mais feliz, apesar do cinzento dos seus dias. Ela
revela uma força e coragem que nos deixam assoberbados e com curiosidade para
ler o próximo volume.
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